quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

BULLYING


Hoje o dia foi basicamente comum. Segundo dia de aulas e encontrei um professor machista, hipócrita e falso moralista.
Sim, ele conseguiu me irritar profundamente. Primeiro, começou a falar sozinho como se alguém tivesse perguntado algo à ele - o que não aconteceu, nem depois do discurso todo. Falou até de mais, sobre assuntos polêmicos, populares, e sobre os quais ele não tinha o menor conhecimento.
Para ser bem sincero, até que estava gostando dele, mas quando ele começou a falar sobre bullying, me perdeu completamente.
Fez aquele discurso ridículo com o qual estamos acostumados, dizendo que o bullying é uma criação da mídia; que ele, quando jovem, tinha cabelos compridos pois gostava do estilo, e que, por isso, sofreu bullying e sabe como é, porém que é tudo, em grande parte, uma invenção da mídia.
Desculpem-me, eu terei que fazer esse discurso aqui, já que creio que ninguém aguentaria me ouvir ou discutir sobre o assunto comigo nesse estado.
Eu sofri bullying, assim como várias outras pessoas na face da Terra e, tendo isso em conta, posso afirmar com certeza mais que absoluta que não, o bullying não é algo criado pela mídia. Eu sofri, sim, por ser gordo, por ser gay e isso estar estampado na minha cara, escrito com letras garrafais. Eu tenho uma cicatriz dentro de mim que talvez nunca desaparecerá porque todas as crianças da minha sala tiravam sarro da minha cara todos os dias letivos do ano. Eu convivia com elas, querendo ser legal, participar, me enturmar.
Tem um cena dessa época que eu lembro bem. Estava no intervalo e eu estava na sala. Uma das minha colegas, chamada Gabrielly, colocou o CD de uma banda para tocar no rádio, no volume máximo. Quando tocou o CD, eu dancei sentado, meio que balancei com o ritmo. Ela com a amiga dela, Heloísa, me disseram que eu não poderia curtir as músicas porque o CD não era meu.
Eu sei que é uma coisa estúpida, mas para uma criança de 10 anos de idade não é. Isso martela em minha cabeça e eu não consigo falar com pessoas que não conheço, porque sofri essa e outras diversas agressões no meu dia-a-dia. Crianças são cruéis, e eu sofri com toda essa crueldade, sem poder me defender. Eu não sabia me defender.
Hoje a situação é diferente. Eu criei uma casca da qual raramente saio, e esse é a minha arma de defesa. Sou estúpido, pois é como isso tudo me fez ser. Talvez eu tenha virado alguém fútil e interesseiro, pois assim é que são as pessoas legais, que sempre me humilharam.
E, quer saber, eu não vou mesmo deixar que alguém fale que tudo o que eu sofri é invenção; simplesmente porque não é! É um absurdo que alguém pense assim! Vai dizer que está escrito na bíblia também, assim como o ódio aos gays?!
Escrevendo isso e, levando ou não em conta o meu estado, meus olhos enchem de lágrimas. Lágrimas pelo que passou e ficará para sempre. Lágrimas pelo o que nunca terminou, apenas silenciou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário