quarta-feira, 27 de maio de 2015

P.S.:



Eu poderia te culpar. Te acusar de não ficar, de não tentar, de não se explicar, de me enganar e iludir... Eu poderia, você deve saber que sim. Mas, na verdade, acho (e somente acho) que isso não tem a razão de encontrar um culpado. Até porque não existe apenas um; cada um de nós fez parte disso, do começo ao fim, independentemente do tempo que durou.

Não quero dizer que te perdoo, uma vez que não sei se sou capaz disso ou se tenho o que perdoar. Ora, quando penso que você seguiu seus desejos, fico na dúvida se eu não faria semelhante. Então, reparo que ninguém tem o direito de brincar com os sentimentos de outro alguém. Mas ninguém me prometeu nada, não foi?

Por vezes acabo lançando essa culpa que não tem dono sobre meus ombros, fardo que não consigo carregar sem que os cantos de meus lábios, junto de minha coluna, se curvem para baixo, me trazendo um semblante de tristeza permanente. Mas isso também não é culpa sua.

No fundo, acredito que o pior foi tudo ter ficado essa bagunça. Eu ainda não consegui arrumar a casa em que você entrou e deixou a seu gosto, em tão pouco tempo. Fui um idiota por ter permitido, mas não me arrependo porque não posso me arrepender de ter te amado. De ter me entregado. De ter querido que desse certo.

Eu não corri mais atrás de você porque cansei de ser uma via de mão única, mesmo pensando em te perguntar durante aquelas duas trágicas semanas o que estava acontecendo com a gentileza e quentura que me mostrou de início, eu não pude; eu não tive como te perguntar. Parece tão simples e bobo agora, não é?!

Eu só queria que você soubesse que embora eu seja um louco enciumado que pode ter parecido não ligar, você me deixou uma marca. Ainda não consigo distinguir se é boa ou ruim - estou esperando cicatrizar, mas ela está aqui, me lembrando de você quase todos os dias. Quando ela não dói, eu me sinto bem melhor. Mas você, às vezes, é uma lembrança igualmente boa.